sábado, 25 de julho de 2015

HOOLIGANS DESCUMPREM MEDIDA JUDICIAL IMPUNEMENTE



ZERO HORA 25 de julho de 2015 | N° 18237


ANDRÉ BAIBICH


VIGIADOS. Tornozeleiras para quem não se apresentou à polícia



SEIS COLORADOS QUE agrediram pai e filho em Inter e Emelec, em março, descumpriram medida cautelar que determinava comparecimento a delegacias em dias de jogos do clube

Dos oito colorados que desferiram socos e pontapés em dois torcedores durante Inter x Emelec, pela Copa Libertadores, em 4 de março, seis ignoraram a medida cautelar que determinava a apresentação à polícia em dias de jogos do time de Diego Aguirre. Por conta do descumprimento, terão de usar tornozeleiras eletrônicas.

O caso mais emblemático é o de Marx Leo de Boni Silva, 19 anos, integrante da Guarda Popular. Após o incidente na partida válida pela Libertadores, o “Gordo Marx”, como é conhecido, se apresentou apenas cinco das 14 vezes a que era obrigado.

O Ministério Público acredita que Marx tenha se envolvido em outra confusão antes de Inter x Atlético-MG, pela Libertadores, em 13 de maio. De acordo com a denúncia oferecida ao Juizado do Torcedor, “o denunciado – acompanhado de outros torcedores – investiu, de surpresa e desferindo socos, contra torcedores do Clube Atlético Mineiro no entorno do estádio”.

Cinco dias depois, Marx foi à audiência pela briga ocorrida durante Inter x Emelec no Juizado do Torcedor, em que lhe foi oferecida a transação penal, um acordo para que não fosse aberto processo criminal. Ficou decidido que a restrição de acesso aos estádios valeria por mais 12 jogos. Ao perceber que Marx não vinha cumprindo a medida cautelar, a Promotoria do Torcedor pediu que a transação penal fosse anulada.

O Juizado do Torcedor negou o pedido e explicou que o acordo tem o valor de uma sentença judicial. Não pode, portanto, ser revertido. Mas recomendou ao MP que solicitasse a abertura de outro processo referente à possível participação de Marx na briga antes de Inter x Atlético-MG. Nas últimas semanas, a Promotoria do Torcedor ofereceu a denúncia contra ele e mais cinco torcedores.

O placar do descumprimento impressiona: Andrey Anderson da Costa Chaves não foi à polícia 11 vezes, Márcio Eleno Correa Lima se ausentou 12 vezes, Hamurábi dos Santos, 15, e Andrey da Silva Pereira, sete. Jéverton Luís da Rosa Pereira foi um dos últimos a ser identificado na confusão e descumpriu a cautelar em dois jogos entre a medida e a audiência.

A partir da denúncia oferecida pelo MP, o Juizado do Torcedor determinou o uso das tornozeleiras eletrônicas pelos torcedores. Andrey Chaves, Andrey Pereira, Márcio, Hamurábi e Jeverton responderão por desobediência, enquanto Marx é acusado de exercer direito a que foi privado por decisão judicial (por ir ao Beira-Rio) e de tumulto (por conta da confusão em Inter x Galo).

Por telefone, Marx disse não ter “nada a declarar” sobre o descumprimento e negou ter participado de agressões a atleticanos. Hamurábi citou a dificuldade de voltar da delegacia de madrugada – quando não há ônibus – em jogos noturnos como motivo para as ausências. Jéverton preferiu não se manifestar. ZH contatou familiar de Márcio Eleno, que após falar com o torcedor, avisou que ele não concederia entrevista. A reportagem tentou contato com Andrey Chaves, mas não teve sucesso. Irritado, Andrey Pereira questionou:

– Vocês não têm mais nada para reportar?

segunda-feira, 20 de julho de 2015

FLAGRANTE DE AGRESSÃO NO METRO DE SP

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 19/07/2015


'Pensei que fosse falecer', diz torcedor agredido no metrô de SP. Ele e dois corintianos foram alvo de membros de organizada do Palmeiras. Fantástico conseguiu, com exclusividade, o flagrante da agressão.





A polícia de São Paulo prendeu três homens da torcida organizada do Palmeiras por espancar três corintianos dentro de um vagão do metrô. Para identificar e prender os suspeitos foram quase nove meses de investigação. Crimes como estes estão cada vez mais comuns. Só este ano dez pessoas foram presas por se envolver em brigas entre torcidas.

Os passageiros do vagão, mostrado pelas câmeras de segurança, não tinham ideia do que estava para acontecer, principalmente três rapazes, torcedores usando camisas de uma torcida organizada do Corinthians, a Pavilhão Nove. Eles estavam a caminho do estádio do time. Na sequência, uma cena forte, de uma violência sem justificativa.

Não foi uma briga motivada por ofensas dentro do trem. O plano dos agressores começou a ser colocado em prática ainda na estação. São 12 homens. Eles se reúnem perto das catracas. Em bando, andam em direção ao embarque.

A polícia já sabe que um homem de casaco preto é Rafael la Laina e o de azul é Jackson dos Santos. Logo atrás, de camisa branca, Sandro de Souza. Todos são integrantes da torcida organizada do Palmeiras, a Mancha Alviverde.

Passageiros assustados tentaram fugir

Segundo o relato das vítimas, na hora que o trem parou, um deles foi até a porta e olhou dentro do vagão. Assim que ele identificou a presença dos três rapazes, ele segurou a porta para que o resto do grupo entrasse. Aí a agressão começou.

Assim que eles entram, já vão direto nos alvos, dois corintianos na parte esquerda do vídeo e um à direita. O primeiro soco parte de Sandro de Souza. É o estopim para a agressão começar. Uma das vítimas corre para o fundo do vagão, mas é cercado pelos agressores. Passageiros assustados tentam fugir.

Enquanto isso, Rafael la Laina dá chutes e socos em um outro corintiano, que em seguida é arrastado pelo chão e cercado novamente por outro grupo de palmeirenses. Um deles, de camisa vermelha, chega a subir no banco para pisar na vítima. De casaco azul, Jackson dos Santos também ajuda na pancadaria. Mesmo caído, um dos corintianos continua apanhando. Toda essa violência só terminou quando o trem chegou na estação seguinte. As cenas de brutalidade aconteceram em outubro de 2014. Mas só agora, em entrevista exclusiva ao Fantástico, duas das três vítimas contaram o terror que viveram.

“Eles falaram que alguns integrantes da Gaviões tinham batido nos da Mancha e eles estavam lá para devolver. Eu tive lesões na parte da costela e na parte do ouvido também”, conta uma das vítimas.

“Até então, a gente nuca se envolveu em briga, até porque a gente não frequentava jogos do Corinthians. Nunca tivemos nenhum tipo de encrenca, de rixa com alguém de torcida organizada. Quando eu levei o primeiro soco, eu caí no chão e só pensei em me proteger. Depois, eu pensei que eu fosse falecer, porque foi muito forte”, relembra outra vítima.

Técnicos mapearam redes sociais dos suspeitos

Foram quase nove meses de investigação. Técnicos analisaram as imagens do circuito interno e mapearam as redes sociais dos suspeitos.

Esta semana, uma operação da polícia conseguiu prender três torcedores palmeirenses: Rafael la Laina, Jackson dos Santos e Sandro de Souza. Eles confessaram a participação na agressão. A polícia ainda tenta confirmar a identidade dos outros agressores. O Fantástico procurou o advogado que defende os palmeirenses, mas ele não quis se manifestar.

“Nós já conhecíamos o Rafael. É um estudante de engenharia, já formado em ciência da computação, um rapaz de classe média, mora aqui na capital, já foi investigado por envolvimento em outras brigas.”, diz o delegado Mário Sérgio de Oliveira Pinto.

Só este ano foram registrados 16 casos de briga entre torcidas, dois deles com morte. Dez pessoas foram presas.

“É muito importante para você acabar com essa sensação de impunidade que existe na praça esportiva. Segundo pesquisas recentes, 60% dos torcedores que deixam de ir ao estádio de futebol é por causa da violência, principalmente das torcidas organizadas”, aponta o promotor de Justiça Paulo Castilho.

O titular do Juizado do Torcedor de São Paulo diz que, desde que o problema começou a ser tratado como questão de segurança pública, os resultados começaram a aparecer.

“Mais ou menos 40 torcedores afastados diminui a violência ou o objetivo ideal irradicá-la, para que o torcedor comum volte ao estádio e os pseudotorcedores, que são aqueles que usam do futebol como pretexto para praticar crime ou atos ilícitos, esses sejam afastados”, diz o juiz Ulisses Pascolati.

O desafio é grande. Enquanto a violência entre torcidas for a regra do jogo, o futebol será exceção nos planos de quem quer se sentir seguro.

“A gente tem medo exatamente por causa disso. Os torcedores saem de casa, para falar a verdade, nem sabe se vai voltar vivo, né? Agora já vem aquele filme, né, do que eu vivi. E eu pensei muito, muito. Eu tenho vontade de voltar a ver os jogos do Corinthians, mas eu penso mil vezes antes de voltar ao estádio”, conta uma vítima.