quinta-feira, 14 de setembro de 2017

PENAS MAIS SEVERAS


ZERO HORA 14 de Setembro de 2017


TORCIDAS ORGANIZADAS. Punições mais severas por tumultos




A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou uma proposta que torna mais severas as punições a integrantes de torcidas organizadas responsáveis por tumultos, conflitos ou atos de vandalismo em estádios e outros locais públicos.

Caso não haja recurso para votação no plenário do Senado, o texto seguirá para a Câmara dos Deputados.

A proposta estabelece prisão de um a quatro anos para os torcedores envolvidos em brigas. Atualmente, o Estatuto do Torcedor (Lei 10.671/2003), alvo das mudanças do projeto, fixa pena de um a dois anos de reclusão.

Segundo o texto do senador Armando Monteiro (PTB-PE), a mesma pena será imposta aos torcedores que se envolverem em distúrbios em um raio de cinco quilômetros ao redor de onde ocorrerem os jogos, ou durante os trajetos de ida e volta. Se dos casos de violência resultar morte ou lesão corporal grave, as punições deverão ser acrescidas em um terço, além do já previsto para esses crimes.

Uma emenda incorporada ao texto retirou a proibição de transferência de dinheiro para as torcidas organizadas por parte de clubes, federações e demais entidades esportivas. O relator considerou que esse ponto punia as organizadas de forma indistinta, antecipada e independentemente da prática de ilícito.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - PENAS BRANDAS. As novas penas previstas ainda são brandas. As penas deveriam ser dobradas se houver violência e triplicadas se houver morte ou incapacitação da vítima. Além disto, a lei deveria prever indenização pelo vandalismo, trabalho público obrigatório em dias de jogo e banimento dos estádios.

domingo, 13 de setembro de 2015

AUSÊNCIA SENTIDA PARA SEMPRE





ZERO HORA 13 de setembro de 2015 | N° 18293


PAIXÃO QUE MATA



O casal Sara e Vítor Lima há oito meses curte o filho pelos dois celulares que eram do garoto. Quando bate saudade, a mãe diarista e o pai pedreiro rebuscam nos aparelhos os vídeos em que Maicon Douglas aparece sorridente e festivo. As imagens são dele entre adolescentes de torcida organizada do Novo Hamburgo no entorno do Estádio do Vale. Dão gritos de guerra, pulam com energia, se jogam uns contra os outros e se chocam no ar com os peitos numa demonstração de força ao som de uma charanga. Os vídeos são a única forma de os pais reverem a vivacidade do filho de 16 anos, que planejava fazer Direito na Ulbra e tinha a tatuagem de Jesus Cristo no peito.

Maicon foi morto em 1º de fevereiro. Depois de um tumulto de organizadas ao final de Aimoré e NH em São Leopoldo, o garoto foi alvejado nas costas. Oito PMs estão indiciados. Não bastasse a perda, Sara e Vitor com frequência são afetados por tremores quando avistam uma viatura ou um policial fardado na rua.

– Chega a dar um troço. Quando a gente vê uma viatura e um policial, o coração dispara, está louco, é horrível... Não dá para generalizar, mas a gente vê viatura e fica assim... meus Deus. É cruel – conta Sara.

Os policiais acusados do crime são suspeitos de trocar o projetil quando Maicon foi atendido no hospital. Flagrada pelas câmeras internas, a trama reforçou o sentimento de insegurança da família:

– Ai, nossa (choro)... Eu nunca vou esquecer ele (o marido, Vítor) chegando sozinho. Com aquele saco de roupa na mão... Eu perguntei: Cadê o Maicon? Ele só dizia: vamos na tua mãe. Perguntei de novo. Aí ele disse, o Maicon morreu. Não acreditei.

Aos 37 anos, Sara é uma pessoa permanentemente comovida com a perda do filho.

– Eu não tenho ódio, não consigo. Mas quero um pouco de paz, além de justiça. Não desejo este sofrimento para ninguém – diz Sara.

Ao casal restou a filha Vitória, 12 anos. É ela quem esquadrinha os celulares do mano e repassa aos pais em momentos estratégicos.

– Ao ver os vídeos, tento procurar uma alegria, mas a dor supera tudo – confessa a mãe.

Também em Novo Hamburgo, quase todos os dias Maria Inês conversa com o filho Gabriel. Ela senta com ele à mesa na hora do almoço e fala providências de casa, no Jardim Mauá. A cama do rapaz está estendida, com a colcha vermelha e branca abaixo de um quadro com o símbolo do Inter à parede.

Maria Inês trata do filho como se ele estivesse vivo. Gabriel Elói de Oliveira, o Feijão, foi morto em junho de 2008, aos 23 anos. Ele e o amigo Jeferson Alves Ferreira, 21, caíram executados em São Leopoldo, vítimas de rixas de torcidas organizadas.

Caçula e único homem de três filhos, Gabriel vivia com a mãe, viúva há quase 30 anos e funcionária aposentada da biblioteca da escola Ana Neri. Passados sete anos, a mãe de Gabriel convive com um filho imaginário, recurso que ela encontrou para abrandar a dor da ausência que ainda hoje a faz chorar pelos canto da casa.

Por isso, aos 65 anos, Maria Inês dirige palavras ao filho inexistente. Já se submeteu a tratamento psiquiátrico, viveu debaixo de forte medicação e acostumou-se à relação com a ideia do filho. É reconfortante. As filhas condenam, mas ela tem a aprovação médica.

– Eu falo com ele todos os dias. Se está me fazendo bem, se me permite esquecer a dor, vou continuar convivendo assim com o meu filho – diz a aposentada. – Aquilo não é idade de se perder um filho, ninguém merece isso.

O quarto de Gabriel é o mesmo de 28 de junho de 2008, o dia da morte. À esquerda da porta, sobre uma máquina de costura que serve de cômoda, estão uma velha chuteira de futsal e um tênis que recém havia ganho. A toalha é um manto colorado. Abaixo da máquina estão um chinelo empoeirado e uma chuteira com a sola descolada.

A cama se mantém encostada à parede vermelha com espelho, quadros com um salmo bíblico, a foto do Inter campeão do mundo e dois símbolos do clube. Sobre um rack há recortes de jornais e caixas de correspondências trocadas com torcidas de outros clubes. O DVD do título mundial está junto a troféus, medalhas e roupas.

O que identifica Feijão com as organizadas do Inter são decalques estampados no guarda-roupas. É neste ambiente que a mãe passa a maior parte do tempo. Hoje a rotina é menos traumática:

– Deixei de assistir ao futebol por muito tempo e só voltei nos últimos anos. Vejo os jogos do Inter pela TV e peço: “Ah, Gabi, ajuda eles a fazer um golzinho!”

Gabriel fez parte de organizadas desde cedo. Quando as brigas no Trensurb engrossaram, ele organizou excursões de ônibus que conduziam torcedores de São Leopoldo e Novo Hamburgo ao Beira- Rio. O ponto de encontro em São Leopoldo era o bar e casa do colega colorado Jeferson Ferreira, no Centro. Em 2004, Feijão foi acusado de estar envolvido na morte do adolescente gremista Tadeu Junges. Que era seu amigo. Quando soube da morte, ficou transtornado. De madrugada, acordava aos gritos:

– Não, Tadeu! Não, Tadeu!

Gabriel ficou três meses no Presídio Central, e mais tarde foi inocentado. Mas restou marcado.

Em agosto de 2007, ele e Jeferson foram baleados por Taquara, da Super Raça do Grêmio, depois condenado no processo por tentativa de homicídio.

O tiro nas nádegas se alojou no intestino. Os agressores prometeram mais: na próxima vez, seria na cabeça. Em junho do ano seguinte, aconteceu a execução no mesmo bar de São Leopoldo de onde partiam as excursões para o Beira-Rio.

– Eu não queria acreditar que o Gabriel estava envolvido neste mundo. Ele fazia faculdade de Educação Física na Feevale, tinha todo o amor em casa e trabalhava na empresa da irmã. Como imaginar uma tragédia dessas? – conta Maria Inês.

Corroída pela culpa, cobrando-se pela falta de atenção ao filho, a mãe logo tentou o suicídio.

A dor dos Oliveira é um espelho do trauma vivido por famílias assoladas pela violência fatal no futebol. Como aconteceu com os Bonow, em Pelotas. Há momentos em que Gimena sente que o pai Gilberto, empresário e torcedor do Pelotas, morto em 2003, ainda está presente.

Até hoje é complicado relembrar o momento em que soube da morte. O irmão Dimitri acompanhava o pai na volta de um clássico Bra-Pel. Estavam próximos ao centro da cidade quando depararam com um grupo de torcedores xavantes. Não houve como escapar: foram espancados, e o coração do empresário não aguentou. Um infarto o levou à morte.

Primogênita, Gimena administra a joalheria da família em uma galeria no Centro. Do outro lado, o irmão Dimitri cuida da relojoaria onde o pai trabalhava. Gimena chora ao contar que, até hoje, tem a impressão de que vai levantar o telefone e falar com Gilberto pela linha interna que conecta as duas lojas.

– Foi muito difícil, até porque não tive a chance de me despedir dele. É algo surreal, parece mentira. Sinto falta do conselheiro, do amigo. Minha mãe sempre foi a educadora, que nos impõe os limites – afirma.

Do outro lado da galeria, Dimitri mostra-se mais fechado ao falar do incidente em que foi vítima. Não deixa que a emoção transpareça em seu relato, mas orgulha-se de ter mantido um dos hábitos preferidos do pai. Três dias após a tragédia, o Pelotas enfrentaria o São José-RS pela primeira fase da Série C do Brasileirão. Perguntava-se nos círculos próximos a Dimitri se ele continuaria a frequentar a Boca do Lobo.

– Eu fui para mostrar que não ia abandonar. Meu pai me levava desde pequeno até em treinos. Pensei que ele não ia querer que me afastasse – diz.

FAMÍLIAS DESOLADAS PELA IMPUNIDADE DO HOLIGANISMO



ZERO HORA 13 de setembro de 2015 | N° 18293



PAIXÃO QUE MATA. Famílias desoladas pela impunidade



Quando está sozinha em casa, dona Eva Goularte chora a morte do filho Emerson, crime que completou o oitavo aniversário em junho passado. Assim, escapa das reprimendas da família que a aconselha a seguir em frente. Mas como ir adiante se os suspeitos nem sequer foram a julgamento?

– Meu filho foi morto feito um bicho – diz, para logo depois se corrigir: – Pior do que um bicho.

O caso de Emerson é uma das seis mortes que ainda aguardam julgamento entre as 15 envolvendo o futebol desde o ano 2000.

Os processos julgados são sete, entre condenações e absolvições. E há dois com suspeitos que acabaram mortos.

Apenas um dos processos que aguardam julgamento corre no prazo, o da morte do garoto Maicon Douglas, alvejado em 1º de fevereiro deste ano em meio a um tumulto de torcida em Novo Hamburgo (leia na página 32). Suspeitos, quatro PMs foram denunciados e esperam sentença.

A dor de dona Eva começou no dia 20 de junho de 2007. Ao final do jogo em que o Grêmio perdeu no Olímpico a Libertadores para o Boca Juniors, o colorado Emerson Goularte foi ao centro de Dom Pedrito comprar uma carteira de cigarros. Gremistas reunidos em um bar lamentavam a derrota, e Emerson teria entrado em uma discussão motivada pelo futebol.

A reação foi violenta. Seis torcedores bateram em Emerson. Entre os acusados das agressões estão integrantes de famílias conhecidas na cidade.

Oito anos depois, após uma sequência de recursos jurídicos, o julgamento ainda não foi marcado.

Desde o dia da tragédia, os Goularte recorrem a um controle emocional incomum e afastam qualquer tentação de vingança. Um grupo de amigos de Emerson teve de ser demovido pela família da ideia de fazer justiça com as próprias mãos. Também os vizinhos tiveram de ser acalmados.

– Nada de revidar. Vamos esperar o que vai acontecer – ensinava seu Walter, o pai.

O caso se arrasta nos tribunais, e os acusados circulam pela cidade. As filhas da vítima, Jaíne e Bruna, com frequência deparavam com um dos réus na cidade.

Walter, Eva e Lillian, a irmã mais velha, costumam ser indagados sobre o andamento do caso. Quando contam que ninguém foi punido até hoje, não raro ouvem a cobrança: “E vocês não vão fazer nada?”.

– O julgamento não vai trazer meu irmão de volta, mas tenho certeza de que será um alívio enorme – resume Lillian, que morava com Emerson e, de tão doída, demorou cinco meses para conseguir entrar em seu quarto após a morte.

Fora o caso de Maicon, de 2015, os demais processos se arrastam, em média, em prazo acima de seis anos e meio.

– É normal que as famílias tenham esta sensação de impunidade. Por isso procuramos trabalhar de forma dedicada nestes processos – destaca Sérgio Luiz Rodrigues, da Promotoria de Justiça Criminal de São Leopoldo.

Cansado de esperar por justiça, Osmar Cierco pensou em organizar passeata para comover a comunidade de Gravataí, em pressão pelo julgamento do caso do filho. Daniel foi morto enquanto comemorava o título da Libertadores de 2006 em um trailer de Cachoeirinha.

Os colegas do Direito da Unisinos lotaram ônibus e compareceram ao velório. Hoje formados, os ex-colegas também pressionam pelo andamento do processo. É o caso de João Carlos de Jesus, um dos melhores amigos de Daniel. Tornou-se advogado da família. É com ele que Oscar se informa sobre o processo.

– Imaginem a situação dos pais de uma pessoa abatida covardemente. O mínimo é a briga pela justiça. Mas é preciso aguardar, porque o sistema tem sido assim – desabafa João Carlos.

PAIXÃO QUE MATA



ZERO HORA 13 de setembro de 2015 | N° 18293


ANDRÉ BAIBICH E JONES LOPES DA SILVA

Paixão que mata


Em nome da paixão e da intolerância, a violência tatuou marcas no futebol. Nos últimos 15 anos, desavenças entre torcidas, brigas de grupos organizados e rixas incendiadas pelo ódio provocaram 15 mortes de gaúchos, uma delas em solo catarinense. Embora nos estádios o tumulto pareça frequente, é fora deles que se construiu a média de uma vítima por ano neste século.

Por ter celebrado com barulho demais o título do Inter na Libertadores de 2006, Rodrigo Azambuja foi morto pelo vizinho. Por estar no local onde antes havia confusão, o torcedor de Grêmio e Novo Hamburgo Maicon Douglas de Lima foi baleado pela polícia. Por terem se envolvido em um mundo violento de juras de morte e vinganças entre torcidas organizadas, Gabriel Oliveira e Jeferson Ferreira foram executados.

Zero Hora contatou parentes das vítimas e viu como cada um lida com a dor de uma perda inexplicável. Há quem mantenha tudo como antes – quarto, camisetas, adesivos e pôsteres. Outros preferem se livrar dos objetos e doar o que sobrou. Um simples olhar para a bandeira do clube detona o sofrimento, e o dia a dia torna-se insuportável. Familiares se desmancharam em lágrimas com a lembrança do filho morto. Outros se recusaram a falar, como se afastassem um tormento.

Mãe de Anderson Livi, o único que morreu dentro de um estádio ao ser atingido por bomba, Eli embargou a voz e não quis atender a reportagem. Maria Inês, mãe de Gabriel, morto a tiros em 2008, recorre a antidepressivos.

O perfil das vítimas torna tudo mais trágico. Tinham 27,6 anos na média, que só chega a tanto porque entre elas estão dois homens com 61 e 62 anos. Não fossem eles, a média cairia para 22 anos. A morosidade da Justiça é agravante na dor: existem casos há oito anos aguardando uma sentença.

Zero Hora conta nesta edição e na de segunda-feira como parentes tocam a vida entre a indignação contra a impunidade, o medo de ser o próximo alvo e o controle da sede de vingança.

andre.baibich@zerohora.com.br
jones.silva@zerohora.com.br

sábado, 25 de julho de 2015

HOOLIGANS DESCUMPREM MEDIDA JUDICIAL IMPUNEMENTE



ZERO HORA 25 de julho de 2015 | N° 18237


ANDRÉ BAIBICH


VIGIADOS. Tornozeleiras para quem não se apresentou à polícia



SEIS COLORADOS QUE agrediram pai e filho em Inter e Emelec, em março, descumpriram medida cautelar que determinava comparecimento a delegacias em dias de jogos do clube

Dos oito colorados que desferiram socos e pontapés em dois torcedores durante Inter x Emelec, pela Copa Libertadores, em 4 de março, seis ignoraram a medida cautelar que determinava a apresentação à polícia em dias de jogos do time de Diego Aguirre. Por conta do descumprimento, terão de usar tornozeleiras eletrônicas.

O caso mais emblemático é o de Marx Leo de Boni Silva, 19 anos, integrante da Guarda Popular. Após o incidente na partida válida pela Libertadores, o “Gordo Marx”, como é conhecido, se apresentou apenas cinco das 14 vezes a que era obrigado.

O Ministério Público acredita que Marx tenha se envolvido em outra confusão antes de Inter x Atlético-MG, pela Libertadores, em 13 de maio. De acordo com a denúncia oferecida ao Juizado do Torcedor, “o denunciado – acompanhado de outros torcedores – investiu, de surpresa e desferindo socos, contra torcedores do Clube Atlético Mineiro no entorno do estádio”.

Cinco dias depois, Marx foi à audiência pela briga ocorrida durante Inter x Emelec no Juizado do Torcedor, em que lhe foi oferecida a transação penal, um acordo para que não fosse aberto processo criminal. Ficou decidido que a restrição de acesso aos estádios valeria por mais 12 jogos. Ao perceber que Marx não vinha cumprindo a medida cautelar, a Promotoria do Torcedor pediu que a transação penal fosse anulada.

O Juizado do Torcedor negou o pedido e explicou que o acordo tem o valor de uma sentença judicial. Não pode, portanto, ser revertido. Mas recomendou ao MP que solicitasse a abertura de outro processo referente à possível participação de Marx na briga antes de Inter x Atlético-MG. Nas últimas semanas, a Promotoria do Torcedor ofereceu a denúncia contra ele e mais cinco torcedores.

O placar do descumprimento impressiona: Andrey Anderson da Costa Chaves não foi à polícia 11 vezes, Márcio Eleno Correa Lima se ausentou 12 vezes, Hamurábi dos Santos, 15, e Andrey da Silva Pereira, sete. Jéverton Luís da Rosa Pereira foi um dos últimos a ser identificado na confusão e descumpriu a cautelar em dois jogos entre a medida e a audiência.

A partir da denúncia oferecida pelo MP, o Juizado do Torcedor determinou o uso das tornozeleiras eletrônicas pelos torcedores. Andrey Chaves, Andrey Pereira, Márcio, Hamurábi e Jeverton responderão por desobediência, enquanto Marx é acusado de exercer direito a que foi privado por decisão judicial (por ir ao Beira-Rio) e de tumulto (por conta da confusão em Inter x Galo).

Por telefone, Marx disse não ter “nada a declarar” sobre o descumprimento e negou ter participado de agressões a atleticanos. Hamurábi citou a dificuldade de voltar da delegacia de madrugada – quando não há ônibus – em jogos noturnos como motivo para as ausências. Jéverton preferiu não se manifestar. ZH contatou familiar de Márcio Eleno, que após falar com o torcedor, avisou que ele não concederia entrevista. A reportagem tentou contato com Andrey Chaves, mas não teve sucesso. Irritado, Andrey Pereira questionou:

– Vocês não têm mais nada para reportar?

segunda-feira, 20 de julho de 2015

FLAGRANTE DE AGRESSÃO NO METRO DE SP

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 19/07/2015


'Pensei que fosse falecer', diz torcedor agredido no metrô de SP. Ele e dois corintianos foram alvo de membros de organizada do Palmeiras. Fantástico conseguiu, com exclusividade, o flagrante da agressão.





A polícia de São Paulo prendeu três homens da torcida organizada do Palmeiras por espancar três corintianos dentro de um vagão do metrô. Para identificar e prender os suspeitos foram quase nove meses de investigação. Crimes como estes estão cada vez mais comuns. Só este ano dez pessoas foram presas por se envolver em brigas entre torcidas.

Os passageiros do vagão, mostrado pelas câmeras de segurança, não tinham ideia do que estava para acontecer, principalmente três rapazes, torcedores usando camisas de uma torcida organizada do Corinthians, a Pavilhão Nove. Eles estavam a caminho do estádio do time. Na sequência, uma cena forte, de uma violência sem justificativa.

Não foi uma briga motivada por ofensas dentro do trem. O plano dos agressores começou a ser colocado em prática ainda na estação. São 12 homens. Eles se reúnem perto das catracas. Em bando, andam em direção ao embarque.

A polícia já sabe que um homem de casaco preto é Rafael la Laina e o de azul é Jackson dos Santos. Logo atrás, de camisa branca, Sandro de Souza. Todos são integrantes da torcida organizada do Palmeiras, a Mancha Alviverde.

Passageiros assustados tentaram fugir

Segundo o relato das vítimas, na hora que o trem parou, um deles foi até a porta e olhou dentro do vagão. Assim que ele identificou a presença dos três rapazes, ele segurou a porta para que o resto do grupo entrasse. Aí a agressão começou.

Assim que eles entram, já vão direto nos alvos, dois corintianos na parte esquerda do vídeo e um à direita. O primeiro soco parte de Sandro de Souza. É o estopim para a agressão começar. Uma das vítimas corre para o fundo do vagão, mas é cercado pelos agressores. Passageiros assustados tentam fugir.

Enquanto isso, Rafael la Laina dá chutes e socos em um outro corintiano, que em seguida é arrastado pelo chão e cercado novamente por outro grupo de palmeirenses. Um deles, de camisa vermelha, chega a subir no banco para pisar na vítima. De casaco azul, Jackson dos Santos também ajuda na pancadaria. Mesmo caído, um dos corintianos continua apanhando. Toda essa violência só terminou quando o trem chegou na estação seguinte. As cenas de brutalidade aconteceram em outubro de 2014. Mas só agora, em entrevista exclusiva ao Fantástico, duas das três vítimas contaram o terror que viveram.

“Eles falaram que alguns integrantes da Gaviões tinham batido nos da Mancha e eles estavam lá para devolver. Eu tive lesões na parte da costela e na parte do ouvido também”, conta uma das vítimas.

“Até então, a gente nuca se envolveu em briga, até porque a gente não frequentava jogos do Corinthians. Nunca tivemos nenhum tipo de encrenca, de rixa com alguém de torcida organizada. Quando eu levei o primeiro soco, eu caí no chão e só pensei em me proteger. Depois, eu pensei que eu fosse falecer, porque foi muito forte”, relembra outra vítima.

Técnicos mapearam redes sociais dos suspeitos

Foram quase nove meses de investigação. Técnicos analisaram as imagens do circuito interno e mapearam as redes sociais dos suspeitos.

Esta semana, uma operação da polícia conseguiu prender três torcedores palmeirenses: Rafael la Laina, Jackson dos Santos e Sandro de Souza. Eles confessaram a participação na agressão. A polícia ainda tenta confirmar a identidade dos outros agressores. O Fantástico procurou o advogado que defende os palmeirenses, mas ele não quis se manifestar.

“Nós já conhecíamos o Rafael. É um estudante de engenharia, já formado em ciência da computação, um rapaz de classe média, mora aqui na capital, já foi investigado por envolvimento em outras brigas.”, diz o delegado Mário Sérgio de Oliveira Pinto.

Só este ano foram registrados 16 casos de briga entre torcidas, dois deles com morte. Dez pessoas foram presas.

“É muito importante para você acabar com essa sensação de impunidade que existe na praça esportiva. Segundo pesquisas recentes, 60% dos torcedores que deixam de ir ao estádio de futebol é por causa da violência, principalmente das torcidas organizadas”, aponta o promotor de Justiça Paulo Castilho.

O titular do Juizado do Torcedor de São Paulo diz que, desde que o problema começou a ser tratado como questão de segurança pública, os resultados começaram a aparecer.

“Mais ou menos 40 torcedores afastados diminui a violência ou o objetivo ideal irradicá-la, para que o torcedor comum volte ao estádio e os pseudotorcedores, que são aqueles que usam do futebol como pretexto para praticar crime ou atos ilícitos, esses sejam afastados”, diz o juiz Ulisses Pascolati.

O desafio é grande. Enquanto a violência entre torcidas for a regra do jogo, o futebol será exceção nos planos de quem quer se sentir seguro.

“A gente tem medo exatamente por causa disso. Os torcedores saem de casa, para falar a verdade, nem sabe se vai voltar vivo, né? Agora já vem aquele filme, né, do que eu vivi. E eu pensei muito, muito. Eu tenho vontade de voltar a ver os jogos do Corinthians, mas eu penso mil vezes antes de voltar ao estádio”, conta uma vítima.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

ORGANIZADAS, TRÁFICO E CRIME TÊM RELAÇÕES ESTREITA EM SP

POLÍCIA-BR, 29 de junho de 2015 09:11


Para delegado, organizadas, tráfico e crime têm relação estreita em SP



Mário Sérgio de Oliveira Pinto monitora o movimento das torcidas organizadas de SP

À frente da Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade), o delegado Mário Sérgio de Oliveira Pinto monitora o movimento das torcidas organizadas de São Paulo. As investigações partem dos crimes de intolerância, área de atuação da delegacia. Mas não raras vezes avança para lavagem de dinheiro, tráfico de entorpecentes e tráfico de armas, entre outros delitos.

Na sua visão, hoje, o maior desafio da polícia está do lado de fora dos estádios. No combate às emboscadas. “Muitas vezes, na maioria, a identidade da vítima é o acaso”, diz ele, para em seguida explicar como funciona a cabeça dos torcedores envolvidos em crimes que via de regra terminam em morte.

“Eles montam emboscada. Investigam onde o rival mora, por onde o rival passa. Eles desconhecem a identidade dessa pessoa. Desprovida desse uniforme, poderia ser um parente. São pessoas que vem da mesma realidade social, compartilham o mesmo interesse. Poderiam ser amigos, irmãos, conhecidos.

Não teria razão de A agredir B se não fosse essa roupa. Acende-se um instinto de inimigo. E o inimigo tem de ser aniquilado”.

Não são crimes comuns, do dia a dia. Segundo ele, são praticados por uma fatia da sociedade muito própria. Ele estima entre são entre 12 e 15 mil torcedores organizados no Estado.

“Por trás desses pequenos delitos que as torcidas praticam, de tumulto, de atirar um objeto no campo, de atirar uma pedra no rival, estão crimes muito mais graves. A gente sempre investiga a participação dessas torcidas no crime organizado. Não que elas façam parte do crime organizado, mas é um terreno fértil”.

E na visão do delegado, os dirigentes têm papel fundamental na força desses grupos. “Até muito pouco tempo recebiam dos seus clubes respectivos repasse de ingressos. Alguns clubes cessaram essa prática. Outros mantêm uma relação que nós classificamos como promíscua. Que é ceder, graciosamente à torcida organizada, uma parte dos ingressos aos quais ela têm direito. Especialmente nos eventos em que ela não detém o mando de jogo”.

O que a princípio pode parecer algo inofensivo, capitaliza financeiramente as organizadas, na opinião de Oliveira Pinto. “O que a torcida organizada faz? Ela repassa esses ingressos por um preço. Se ela não pode revender esse ingresso pelo valor superior ao de face, porque senão estaria funcionando como cambista, ela agrega valor a esse ingresso oferecendo um serviço, por exemplo, de transporte. A torcida ganha dinheiro também aí.”

E é por aí que o crime organizado tem a porta aberta, em sua opinião. “Isso acaba gerando um caixa para uma entidade que hoje não tem tanto controle. Eu não posso dizer que a torcida organizada está vinculada ao crime organizado, mas o espaço está aberto… Sem um controle efetivo das finanças, não se sabe de onde vem o dinheiro. Algumas são ligadas a escolas de samba. Recebem repasse da municipalidade, têm ensaios, festas, se capitalizam muito. Fora os indícios de que fomentam venda de entorpecentes nessas festas. Ou por integrantes de torcidas, ou por terceiros que atuam lá dentro”.

Ele pergunta: “Quantas pessoas entram em uma festa de chopp de sábado em uma grande torcida da capital? Se eu não tenho registro de caixa, vai ser tido como verdade, abre caminho para a prática de sonegação fiscal, pode ser uma lavagem de dinheiro. Esse dinheiro pode vir do crime organizado? Sim. E insiste: é um terreno muito fértil…”

Noticias Bol


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