segunda-feira, 22 de setembro de 2014

PROVOCAÇÃO HOMOFÓBICA

FOLHA.COM, 21/09/2014 14h39

Torcida do São Paulo faz provocação homofóbica a corintianos em Itaquera. Clássico Corinthians x São Paulo


Joel Silva/Folhapress


MARCELO QUAZ
DE SÃO PAULO 




A torcida do São Paulo organizou uma provocação homofóbica para os torcedores corintianos horas antes do clássico entre os dois clubes, neste domingo (21), em São Paulo.

No caminho para o estádio do Itaquerão, onde será disputado o clássico, integrantes da torcida são-paulina vestiram perucas coloridas e camisetas que formavam os dizeres 'Gaivotas da Fiel', em alusão à Gaviões da Fiel - maior torcida organizada corintiana.

O tom homofóbico pauta o clássico entre São Paulo e Corinthians. Na semana passada, o Corinthians lançou um apelo aos seus torcedores. Em seu site oficial, o clube paulista publicou uma nota pedindo o "fim do grito de 'bicha' no tiro de meta do goleiro adversário".

Em todas as partidas com mando do Corinthians, a torcida grita "bicha" no momento em que o goleiro chuta o tiro de meta.

O receio da diretoria do clube é que o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) puna o Corinthians em caso de denúncia por causa de ações homofóbicas dos seus torcedores. A pena prevista para os clubes condenados é a perda de três pontos. Em caso de reincidência, a pena dobra.

Já a Independente, maior torcida organizada do São Paulo, promete entoar diante do Corinthians uma música de teor homofóbico que virou hit entre os são-paulinos.

A decisão ignora o apelo que o clube rival fez aos seus torcedores para evitarem provocações de cunho discriminatório no clássico de domingo (21), no Itaquerão, pelo Campeonato Brasileiro.

Os são-paulinos, que já viram Rogério Ceni ser vítima muitas vezes de provocações corintianas, criaram no fim de agosto uma música que diz que "o gavião virou um beija-flor", em alusão à principal organizada rival, a Gaviões da Fiel.

Joel Silva/Folhapress


Torcedores são-paulinos provocam a torcida organizada corinthiana



BOMBAS EM CLASSICO MINEIRO

CORREIO DO POVO 21/09/2014 22:09


Torcedores são presos após soltarem bombas em Cruzeiro x Atlético-MG. Gestora do Mineirão salientou que vai apurar como artefatos passaram por revistas




Rojões causaram incêndio nas arquibancadas do Mineirão
Crédito: Ramon Bitencourt/Lancepress


Dois torcedores do Atlético-MG foram detidos pela Polícia Militar de Minas Gerais após lançarem bombas no Mineirão durante o clássico com o Cruzeiro, que terminou com vitória do Galo. O incidente, que causou incêndio nas arquibancadas, foi informado, na tarde deste domingo, pela Minas Arena, empresa responsável pela gestão do estádio.

A gestora do local afirmou que quem entrou com sinalizadores e bombas foi conduzido pelos agentes da PMMG à delegacia, que se encontra nas dependências do Gigante da Pampulha.

A Minas Arena também informou não saber como os atleticanos pertencentes à principal torcida organizada entraram no estádio com os artefatos. Eles teriam sido revistados duas vezes pelos agentes, uma na concentração realizada no Mineirinho e outra na entrada no estádio.

Fonte: Lancepress

sábado, 6 de setembro de 2014

PUNIÇÃO EXEMPLAR

REVISTA ISTO É N° Edição: 2337 | 06.Set.14 


Em medida inédita no País, o Grêmio é excluído de uma competição nacional por causa do comportamento racista de torcedores. A decisão marca uma nova fase na luta contra as manifestações de preconceito nos estádios


Rodrigo Cardoso 



O compositor Lupicínio Rodrigues (1914-1974) exaltava um traço democrático do Grêmio Foot Ball Porto Alegrense para justificar como ele, um negro, havia aceitado compor um hino para o clube que sustentava a desonrosa posição de ter sido o último no País a permitir a presença de jogadores dessa raça em seu plantel – fato ocorrido em 1952. Gremista inveterado, Lupicínio argumentava que seu time de coração havia acenado favoravelmente para que equipes da chamada Liga da Canela Preta, criada no Sul para que os negros excluídos desse esporte pudessem praticá-lo, fossem incorporados ao Campeonato Gaúcho. A história gremista é permeada por exemplos de igualdade e inclusão, como também de episódios racistas patrocinados por grupos minoritários – o que não é “privilégio” da agremiação gaúcha. Na quarta-feira 3, o Grêmio pagou caro por sustentar entre o quadro de torcedores pessoas que reforçam a discriminação racial. Em uma decisão unânime do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), o clube tornou-se o primeiro a ser excluído de uma competição nacional, a Copa do Brasil, por atos de injúria racial. O fato que precipitou a condenação ocorreu em agosto, na Arena Grêmio, em Porto Alegre, quando, da arquibancada, gremistas gritaram palavras como “macaco” e “preto fedido” para o goleiro Aranha, do Santos, em jogo válido por essa competição. “A sociedade não suporta mais esse tipo de barbárie. Punir categoricamente a instituição em âmbito cível é um recado em alto e bom som”, diz o sociólogo Maurício Murad, do mestrado da Universidade Salgado de Oliveira (Universo).


COVARDIA
Sob gritos de -macaco-, proferidos por gremistas como a dentista
Patrícia Silva, o goleiro Aranha, do Santos, protesta



Apesar de, depois do episódio, o clube impedir a Geral do Grêmio, torcida organizada que entoa coros de cunho racista, de frequentar a Arena por tempo indeterminado e de ter ajudado a identificar cinco pessoas que ofenderam Aranha, o STJD não aliviou na pena, o que gerou uma discussão na esfera esportiva. Para o jornalista e comentarista esportivo Juca Kfouri, “se os clubes tomarem as atitudes necessárias para identificar os responsáveis e entregá-los às autoridades, não devem ser responsabilizados”. O tricolor gaúcho, porém, é reincidente. Já havia sido condenado a pagar R$ 80 mil de multa depois que, em partida válida pelo Campeonato Gaucho na Arena, em março, o zagueiro do rival Internacional foi chamado de macaco por um torcedor gremista (leia quadro). “Mais do que isso, o Grêmio só se mexeu por medo da punição e não porque se tratava de uma causa contra a qual luta interna e ferrenhamente”, afirma o historiador Marcel Tonini, cuja dissertação de mestrado dissecou a história dos negros no futebol brasileiro.


JUSTIÇA
Na quinta-feira 4, a dentista admitiu os insultos ao prestar depoimento à polícia

De fato, para que o episódio tenha caráter educativo – e até preventivo – é preciso fazer valer a máxima da justiça criminal segundo a qual a punição que melhor produz resultado é a que alcança o indivíduo transgressor. Na quinta-feira 4, a dentista Patrícia Moreira da Silva, 23 anos, que foi flagrada por câmeras de TV gritando “macaco” para o goleiro santista, admitiu em depoimento tê-lo insultado, mas disse ter se deixado levar pelo coro da torcida que costumeiramente profere cantos racistas contra adversários. Tal argumentação só reforça o quão é fundamental a punição individual dos que cometem atos de violência – como é o caso da injúria racial e do racismo – em estádios de futebol.

Nesses locais, transgressores supõem-se preservados pelo anonimato da multidão e se encorajam para manifestar a sua falta de civilidade. “Se essa moça e outros criminosos não forem punidos, mais uma vez ficarão escondidos, livres, diluídos na punição coletiva”, afirma Murad. Permitir que o ponta-direita Tesourinha fizesse parte do elenco do time, rompendo a barreira que impedia a participação de atletas negros, foi um gol do Grêmio, anotado nos anos 50. Sessenta anos depois, quica na frente dessa centenária instituição gaúcha nova oportunidade para trabalhar – prevenindo, fiscalizando e punindo a minoria racista infiltrada na sua torcida – a favor da integração social, reafirmando que a cor da pele não é sua adversária dentro das quatro linhas.



Fotos: Bruno Alencastro/Agência RBS; Ronaldo Bernardi/Estadão Conteúdo

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

TORCIDA MONITORADA



ZH 05 de setembro de 2014 | N° 17913


ADRIANO DE CARVALHO



MP DE OLHO NA GERAL

Promotoria do torcedor promete fiscalizar comportamento de organizada do Grêmio para punir responsáveis em caso de novos atos de racismo na Arena



OMinistério Público do RS, por meio da Promotoria do Torcedor, está entrando em campo para coibir os cânticos de cunho racista da torcida Geral. Já suspensa preventivamente pelo Grêmio, a organizada também será punida pelo MP caso músicas com o termo macaco sejam entoadas na arquibancada norte da Arena.

Neste caso, a promotoria aplicará sanção semelhante à imposta à Geral após o descumprimento de ordens no deslocamento ao BeiraRio para o Gre-Nal 402, em agosto. A organizada ficou impedida, por uma portaria da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), de ingressar com faixas e instrumentos, ou qualquer identificação, por cinco partidas do clube em todos os estádios do país.

O próximo jogo do Grêmio com mando na Arena, contra o Atlético-PR, na quarta-feira, é considerado de alto risco pela direção. Principalmente porque o clube pretende entrar com recurso no caso das injúrias ao goleiro do Santos, Aranha, que excluiu o clube gaúcho da Copa do Brasil. E, neste caso, o recurso seria julgado no dia seguinte, no Pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Assim, uma nova manifestação de cunho racista poderia agravar a pena do Grêmio, com a aplicação da perda de até 10 mandos de campo, o que se estenderia aos jogos do Brasileirão.

– O cântico no domingo foi a gota d’água. Após esta punição do STJD, não se pode tolerar esse tipo de conduta da torcida – afirma o promotor José Francisco Seabra.

Impedida de entrar com qualquer identificação na Arena, a Geral, por meio de seu líder, Rodrigo Rysdyk, afirma ter suspendido o termo macaco de suas músicas. No entanto, Rysdyk se diz incapaz de controlar o que é cantado no estádio sem a banda da torcida, suspensa de assistir aos jogos. Para fechar o cerco, o MP passou a gravar o comportamento da Geral em vídeo. No jogo contra o Bahia, domingo, a Promotoria do Torcedor já começou a colher imagens durante os cânticos racistas.

Para reforçar a fiscalização, Seabra, com apoio de promotorias de todo o país, recomendará à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que adote procedimento uniforme nos jogos, destacando funcionário para monitorar torcidas e informar atitudes suspeitas ao árbitro, para registro em súmula.

– Nossa preocupação neste momento é coibir o racismo, que é crime. É difícil punir individualmente. A forma mais efetiva de conter estas manifestações é com o sancionamento da organizada. Se existirem os cânticos, a fonte será identificada e faremos com que a torcida seja punida – diz Seabra.

Mensagens racistas fazem

auditor pedir licença do STJD

O auditor do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) Ricardo Graiche, em cuja página no Facebook existiam mensagens de cunho racista, pediu licença ontem depois que o assunto veio à tona. Graiche é membro da 3ª comissão do STJD e participou do julgamento do Grêmio, votando pela exclusão do clube da Copa do Brasil por atos de racismo de torcedores contra o goleiro Aranha.

Graiche será investigado pela corregedoria do STJD. A abertura de sindicância foi determinada pelo presidente do órgão, Caio Rocha. O tema veio a público na madrugada de ontem, na Rádio Gaúcha. Diante da repercussão das fotos, postadas em 2012, o auditor apagou seu perfil no Facebook.

O Grêmio vai aguardar que a corregedoria apure o caso antes de tentar a anulação do julgamento. A direção considera precipitado um pré-julgamento, que poderia ser desmoralizado posteriormente, caso o envolvido comprove não ser o responsável pela publicação.

– Não faremos linchamento. É do STJD a tarefa de apurar a responsabilidade – afirma o diretor jurídico Thiago Brunetto, descartando a hipótese de tentativa de anulação do julgamento.

Nas redes sociais, torcedores cobram uma postura imediata, sob a alegação de que o julgamento ficou comprometido. Membro do Pleno do STJD, o advogado gaúcho Décio Neuhaus vê prejuízos para a imagem do tribunal, mas não crê em anulação.

Após a publicação do acórdão da sessão em que foi punido, o Grêmio deve encaminhar recurso ao Pleno do STJD e pedir efeito suspensivo da decisão. A tendência é que, se houver o julgamento, ele ocorra na próxima semana. Caso seja absolvido ou multado, o Grêmio terá direito à partida de volta contra o Santos, para se candidatar a uma vaga nas quartas de final da Copa do Brasil.

Em redes sociais, torcedores do Flamengo prometem agredir a gremistas, a quem chamam de racistas e nazistas, durante a partida de amanhã, no Maracanã.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

EXCLUSÃO POR ATOS DE RACISMO


ZH 04 de setembro de 2014 | N° 17912


LEANDRO BEHS | RIO DE JANEIRO


UMA MÁCULA NA HISTÓRIA DO GRÊMIO

CLUBE FOI PUNIDO com a exclusão da Copa do Brasil pelos insultos por parte de torcedores contra o goleiro Aranha do Santos, em jogo na Arena. Direção deve recorrer da punição em segunda instância



A 11 dias de completar 111 anos, o Grêmio tornou- se ontem o primeiro clube brasileiro a ser excluído de uma competição por atos de racismo. Os insultos proferidos por torcedores ao goleiro Mário Lúcio Duarte Costa, o Aranha, do Santos, custaram a eliminação na Copa do Brasil, decidida por unanimidade na Terceira Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). O Grêmio entrará com recurso no Pleno do Tribunal.

A tendência, porém, é de novo revés. A direção não descarta recorrer à Fifa. Revoltado, o Grêmio promete fiscalizar todos os demais times do Brasileirão e exigirá punição a qualquer outro ato de ofensa e injúria. A procuradoria do STJD ainda poderá ingressar no Pleno pedindo a perda de mandos de campo do clube no Brasileirão.

Antes da sessão, o Grêmio pediu ao presidente da Turma, Fabrício Dazzi, que a audiência fosse a portas fechadas. O pedido foi indeferido, e o clube foi julgado diante de 42 jornalistas. A decisão dos auditores foi unânime: cinco votos – todos acompanharam o relator Francisco de Assis Pessanha Filho. A justificativa foi a imposição de uma punição didática à torcida.

– Não foram apenas quatro ou cinco pessoas que fizeram aquilo. Foram atos repugnantes, esta erva daninha está crescendo e começando a se espalhar pelo Brasil – afirmou Pessanha.

Presente ao julgamento, o presidente Fábio Koff era só tristeza. Exibia um semblante cansado e sério, recostado na cadeira do Tribunal, sofrendo com as cortantes palavras dos auditores.

– Se esta condenação servir para acabar com o racismo no Brasil, será fantástico. Mas não creio que isto vá ocorrer. A punição foi exagerada – protestou Koff ao final.

O Grêmio deverá ingressar com recurso até amanhã. Um novo julgamento, em segunda instância, deverá ocorrer na semana que vem. Até lá, o chaveamento na Copa do Brasil estará congelado. O Santos não poderá jogar as quartas de final até a decisão no Pleno.

DEFESA RECORREU A ÍDOLOS E CAMPANHA

Foram quase quatro horas de provas de vídeo e de depoimentos. O subprocurador Rafael Vanzin apresentou imagens de torcedores ofendendo Aranha, da torcedora Patrícia Moreira gritando “macaco”, depoimentos dos jogadores sobre racismo, além da entrevista do goleiro ao Fantástico, afirmando ser “tolerado” e não aceito pela sociedade por ser negro.

Em seguida, a defesa do Grêmio recorreu a suas campanhas contra o racismo, citou ídolos negros e o autor de seu hino, Lupicínio Rodrigues, para provar que não pode receber a pecha de clube racista.

– A decisão atinge um clube com 111 anos de existência, que tem uma escolinha com 1,1 mil crianças, das quais a maioria é de cor. O prejuízo à imagem do clube é irreparável – disse Koff aos auditores.

Em seguida, o trio de arbitragem passou a ser inquirido. O árbitro Wilton Pereira Sampaio e o auxiliar Carlos Berkenbrock tentaram justificar a não interrupção do jogo. Alegaram não terem confiado nos relatos de Aranha e que só acreditaram nos insultos ao vê-los na imprensa, já no hotel. Por isto, não relataram o fato em súmula – só no dia seguinte, em adendo.

A partir de agora, o Grêmio precisará se livrar do estigma do preconceito, algo que se espalhou Brasil afora. A começar neste sábado, contra o Flamengo, no Rio.


Alerta para novos cânticos


O rompimento de relações com a torcida Geral faz o Grêmio tratar como de alto risco a partida contra o Atlético-PR, dia 10, na Arena. A direção se baseia em informações nas redes sociais, sobretudo o Twitter, para se precaver contra novos cânticos racistas, mesmo depois da punição imposta ontem.

Outro jogo considerado perigoso é o do dia 18, contra o Santos, pelo Brasileirão, por marcar a volta do goleiro Aranha, pivô dos atos que redundaram na punição.

Uma reunião entre dirigentes do clube e da Arena Porto-Alegrense é aguardada para hoje. No encontro, a gestora do estádio pretende saber quais as medidas adicionais de segurança o Grêmio projeta implementar para os próximos jogos. Uma das providências cogitadas é a instalação de cadeiras no setor norte do estádio, o espaço preferido dos componentes da Geral. O presidente Fábio Koff ainda se mostra relutante quanto a isso, por julgar a medida elitista.

– Esperamos que a torcida tenha o bom senso de não prejudicar mais. Queremos saber se são torcedores do Grêmio ou são rebeldes sem causa – afirma Lauro Noguez, assessor especial da presidência para assuntos de torcida.

A BM poderá aumentar o contingente na Arena para o jogo contra o Atlético-PR. Considerado um jogo de médio porte pelo Comando de Policiamento da Capital, teria, normalmente, 60 policiais no entorno do estádio e cem na parte interna. Conforme o risco identificado pelo Grêmio, este número poderá quase que dobrar.

Na Polícia Civil, está previsto para hoje o depoimento de Patrícia Moreira, flagrada por câmera da ESPN gritando a palavra macaco para o goleiro santista. Ela responde a inquérito por injúria racial.


A repercussão internacional



ENTREVISTA

“Estigmatizaram a nossa torcida”

RUI COSTA, Diretor de futebol do Grêmio



Como recebeu a decisão?

Foi revoltante ver como os auditores comemoraram a decisão. Em sete anos de STJD, jamais vi auditores se abraçando ao final. Vieram ao julgamento com uma sanha punitiva contra o Grêmio.

No julgamento, foi relatado pelos advogados do Grêmio o caso de injúrias racistas de torcedores do Paraná Clube na partida contra o São Bernardo. O clube foi punido com multa de R$ 15 mil. Isto também causou indignação?

Parece que punir o Grêmio representará solucionar este problema no Brasil todo. Mas a partir de agora, filmaremos todos os jogos. Vamos fiscalizar os clubes, principalmente os que estão à nossa frente no Brasileirão, pois queremos ver todos, cujas torcidas cometerem algum deslize, punidos também.

O Grêmio ficou marcado após este episódio?

O torcedor gremista está sendo denominado de fascista nas ruas. Já temos relatos até de agressões a quem usa camisa do Grêmio. Estigmatizaram a nossa torcida. Sábado, no Maracanã (Flamengo x Grêmio), nossos torcedores estarão em risco por causa disto.


AS PUNIÇÕES

Penas no julgamento de ontem envolvendo o jogo Grêmio x Santos

 GRÊMIO -Exclusão da Copa do Brasil, multa de R$ 54 mil (R$ 50 mil pelas injúrias raciais, R$ 2 mil por papel higiênico arremessado ao gramado e R$ 2 mil por atraso na entrada do campo) e proibição aos torcedores envolvidos de, por 720 dias, entrarem na Arena ou qualquer outro estádio em que o clube seja mandante

ÁRBITRO WILTON PEREIRA SAMPAIO -Suspenso por 90 dias e multado em R$ 1,6 mil por não relatar em súmula as injúrias raciais

AUXILIAR KLEBER LÚCIO GIL -Suspensão de 60 dias e multa de R$ 1 mil

AUXILIAR CARLOS BERKENBROCK -Suspensão de 60 dias e multa de R$ 1 mil

SANTOS -Multa de R$ 4 mil por atraso

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O RIO GRANDE NÃO É RACISTA


ZERO HORA 03 de setembro de 2014 | N° 17911



EDITORIAL




Responsabilizar o Estado inteiro ou mesmo o clube pelas injúrias raciais praticadas por alguns torcedores é simplista, desproporcional e injusto.

Há racismo no Brasil, isso é inquestionável. Há, igualmente, racismo no Rio Grande do Sul. Mas não se conhece qualquer estudo científico sério que comprove a incidência maior de preconceito racial em nosso Estado do que em outras unidades da federação. Da mesma maneira, todos sabemos que existe racismo no futebol e também em outros esportes, tanto no Brasil quanto no Exterior. Até por isso, o abominável rótulo da discriminação não pode ser colocado na conta de um só clube. O Grêmio tem uma imensa torcida e a maioria dos seus torcedores, assim como a maioria dos gaúchos, abomina o racismo, defende a diversidade e a convivência harmoniosa entre todos os seres humanos. Não poderia ser diferente num Estado multirracial, que se orgulha de abrigar imigrantes de variadas origens étnicas.

Neste contexto, não se pode aceitar que os gremistas e, por extensão, os gaúchos sejam tachados coletivamente de racistas, como vem ocorrendo desde o lamentável episódio do jogo entre Grêmio e Santos, no qual o goleiro Aranha foi ofendido com injúrias raciais por um grupo de torcedores. Responsabilizar o Estado inteiro ou mesmo o clube pelo incidente é simplista, desproporcional e injusto.

As pesquisas históricas desmentem essa generalização.

Os gaúchos têm, entre outras referências acadêmicas importantes, uma obra exemplar para a compreensão da nossa formação. Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional, do sociólogo e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, é considerado um livro decisivo para o entendimento dos danos do escravismo não só no Estado, mas em todo o sul do país. É também revelador da importância do negro na cultura gaúcha e da contribuição que os movimentos abolicionistas deram para o fim de uma chaga que perdurou por três séculos e meio. Tanto que, em meio a controvérsias, o Rio Grande do Sul decretou o fim da escravidão quatro anos antes da Lei Áurea. Um Estado marcado pela resistência ao escravismo e pela exaltação das liberdades, acentuadas com a chegada dos imigrantes, não pode ignorar esse acervo histórico e seus significados.

Também a história contemporânea do Estado evidencia o equívoco da rotulação. O Rio Grande do Sul já teve como governador o negro Alceu Collares, eleito democraticamente com o voto da maioria absoluta dos gaúchos. Também é deste Estado a primeira Miss Brasil negra, a porto-alegrense Deise Nunes, eleita em 1986. O próprio Grêmio tem uma forte identificação com a população afrodescendente: a estrela solitária de sua bandeira homenageia o negro Everaldo, campeão do mundo em 1970; o hino do clube foi composto pelo negro Lupicínio Rodrigues e o clube mantém, desde o ano passado, uma campanha de conscientização denominada Azul, Preto e Branco: o Grêmio é contra o racismo.

O racismo é inadmissível. Todas as práticas racistas, expressas ou veladas, devem ser combatidas, condenadas e punidas na dimensão exata dos danos que causam às vítimas e à sociedade. O Grêmio deve uma ação mais eficaz na repressão às manifestações dos torcedores que ofendem jogadores e torcedores adversários, seja por xingamentos diretos ou por cânticos injuriosos como o que costuma ser entoado pela torcida organizada Geral para provocar o rival Internacional.

Mas é inaceitável que tais desvios de conduta sejam atribuídos a todos os gremistas e a todos os gaúchos.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

RACISMO, HIPOCRISIA E DEMAGOGIA


ZERO HORA 02 de setembro de 2014 | N° 17910


SÉRGIO DA COSTA FRANCO*


Multidões são universalmente irracionais, violentas e inconsequentes. Quanto às multidões que lotam os estádios de futebol, é inevitável que, além de exacerbadas pela disputa esportiva, e não controladas por qualquer poder superior ou liderança emotiva, assumam atitudes agressivas e desumanas. Ninguém jamais as controlará. Por isso, despertam-me até indignação as manifestações que têm surgido nos veículos de comunicação, de sumária condenação (e até diria linchamento) de uma parcela reduzida da torcida gremista, que ofendeu o goleiro Aranha, do Santos F.C. Esclareça-se que “Aranha” é apelido ostentado por aquele atleta desde a Baixada Santista, decerto em razão de alguma similitude descoberta pelos seus conterrâneos, não inventada nas arquibancadas da Arena do Grêmio. As torcidas de futebol são criativas na aplicação de alcunhas, algumas amistosas, outras francamente agressivas, dependendo do grau de estima ou desestima do jogador. A injúria aos participantes do prélio esportivo é algo entranhado nas tradições do futebol e que tanto atinge os próprios atletas em campo quanto a comissão técnica, os “bandeirinhas” e suas mamães. O epíteto de “burro” acompanha inevitavelmente os treinadores. As mães dos árbitros devem adaptar-se a uma ladainha de insultos, às vezes gritados em coro e em geral tolerados com alguma bonomia.

Xingar o árbitro da partida é permitido, salvo se ele tiver um bisavô na África. Xingar a mãe do árbitro é admissível... Mas agora, em nome da hipocrisia do “politicamente correto”, pretende-se bloquear os afrodescendentes contra qualquer hostilidade verbal, mesmo quando a provoquem. “Negrão”, só com licença do próprio. E não duvido que criminalizem até o carinhoso “neguinho”, que é apelativo usual entre brancos afetuosos.

Contra injúrias, todos temos direito a proteção legal, mediante queixa... se e quando a identificação do ofensor se tornar possível. Mas, na imprensa do Rio e de São Paulo, pretende-se crucificar o Grêmio e o próprio Rio Grande do Sul como racistas, por causa de manifestações incontroláveis. Como se no Rio e em São Paulo não houvesse práticas similares. E agora me contam que uma das moças da torcida gremista perdeu até o emprego em função da campanha demagógica. Suprema injustiça!


*HISTORIADOR

O MACACO DE PATRÍCIA


ZERO HORA 02 de setembro de 2014 | N° 17910



MANOEL SOARES*




Desde a última quinta-feira acompanho de perto o episódio que envolve a gremista Patrícia. Ao conversar com um de seus irmãos, que pediu para que não revelasse seu nome, vi um homem com os olhos cheios de lágrimas que lamentava o estado de saúde da mãe depois da atitude de Patrícia. Ele conta que ela, desde os 10 anos de idade, sempre foi fanática pelo Grêmio. Diz que, se para provar que era gremista precisasse cortar um dedo da mão, ela cortaria. Os vizinhos mais próximos, a maioria negros, contam que ela é fã do Grupo do Bola e, já de acordo com amigos próximos, ela namorou um jovem negro por quem ainda guarda paixão. No trabalho, de acordo com colegas, era uma moça doce, mas sempre recebia a recomendação de calma ao entrar no estádio. Amigos dizem que ela se transformava completamente. Ninguém que conheci definiu Patrícia como racista, mas como uma menina impulsiva e excessivamente dedicada ao clube de futebol que torcia. Olhando suas redes sociais, vi que o seu desequilíbrio estava sempre conectado ao futebol. Em uma das fotos, vi-a segurando um bicho de pelúcia que parecia ser um macaco com a camisa do Internacional.

Existem racistas aqui em nosso Estado, eu já tive que correr de carros em alta velocidade cheio de jovens me chamando de negro sujo. Quando namorei uma jovem de pele clara, fui apresentado ao seu pai e ele interpretou a escolha dela em namorar um negro como uma provocação. Me lembro como hoje das palavras dele: “Só o que me falta, essa destrambelhada quer escurecer a família”.

A partir das minhas expe- riências pessoais, fiquei intrigado, porque raramente o racista se afeiçoa ou interage com negros como ela. Mas ainda resiste a pergunta: por que Patrícia achou que poderia fazer o que em outros momentos de sua vida não faz?

Patrícia deve pagar pelo seu erro, mas atacar somente ela é secar o chão com a torneira aberta. Não se trata somente de um clube de futebol, mas de uma consciência coletiva. O racismo nos estádio tem mais de 23 anos de idade.

Mas, como negro, posso garantir a vocês que a Patrícia nos fez um favor: mostrou que o racismo precisa ser debatido, pois ele existe e, se encontrar solo fértil, cresce.*JORNALISTA

COMO A ESPANHA DESINTEGROU QUTRO TORCIDAS ORGANIZADAS

ZERO HORA 02 de setembro de 2014


LUIZ ZINI PIRES


Torcidas organizadas perderam lugar na Espanha. Encontro quatro exemplos. Podem ser úteis. Quem sabe copiados.


O grupo Ultrassur instalou-se no Santiago Bernabéu e foi alimentado por três décadas pelo Real Madrid. Quando fugiu do controle, foi punido. Os dirigentes expulsaram o Ultrassur do seu lugar habitual no estádio, aumentaram a vigilância interna e a Justiça apanhou os líderes do violento bando. O Ultrassur murchou, ao menos em Madri.

Com bandeiras do Barcelona, o Boixos Nois ganhou assento no Camp Nou, mas extrapolou. Seus componentes envolveram-se em brigas, tráficos de drogas, vandalismos e bebedeiras. A direção podou seu espaço no estádio. Sem lugar cativo e referência em dias de jogos, o Boixo Nois perdeu força e se desintegra aos poucos.

As Brigadas Blanquiazules foram proibidas de frequentar o estádio do Espanyol, em Barcelona, e vivem seu fim.

O Bastión, do Atletico de Madrid, foi dissolvido depois que um dos seus líderes matou um torcedor da Real Sociedad. Não existe mais.

Inimigos no futebol, os bandos se parecem fora dele. São grupos de direita e fascistas. Chamam negros de macaco nos estádios e atacam muçulmanos nas ruas. Unidas, a autoridades dos clubes e a lei liquidaram os delinquentes.

O futebol espanhol melhorou.



O galês Bale recebe o apoio da verdadeira torcida do Real Madrid. Os delinquentes fantasiados de torcedores foram varridos do Estádio Santiago Bernabéu. Foto Gerard Julien/AFP,BD

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

GREMIO SUSPENDE TORCIDA DA GERAL

ZERO HORA 01/09/2014 | 19h16

Imposição da direção. Atos racistas levam Grêmio a suspender atividades da Geral

Nota divulgada pelo clube lista quatro medidas que serão tomadas com relação à torcida organizada



Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS


O Conselho de Administração do Grêmio divulgou nota na tarde desta segunda-feira na qual suspende por tempo indeterminado a torcida Geral de qualquer atividade relativa ao clube. Em quatro itens, o texto cita ainda que os cânticos entoados na partida de domingo, contra o Bahia, tiveram "claramente o objetivo de prejudicar" a agremiação.

A Geral do Grêmio também será proibida de utilizar marcas de propriedade intelectual do clube. O comunicado ainda observa que torcedores podem ser desligados do quadro social, caso identificados.

Confira a íntegra da nota:

O Conselho de Administração do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, no uso de suas atribuições e considerando a gravidade dos fatos ocorridos no jogo entre Grêmio e Bahia, pelo Campeonato Brasileiro 2014, os quais tiveram claramente o objetivo de prejudicar o Clube, resolve:

1) Suspender por tempo indeterminado qualquer atividade da torcida organizada denominada Geral do Grêmio;

2) Proibir, por parte da referida torcida, a utilização das marcas de propriedade intelectual do Clube;

3) Identificar possíveis sócios envolvidos no episódio para ultimar medidas administrativas visando seu desligamento da atividade associativa e da frequência ao estádio, se for o caso;

4) O Clube, diante dos últimos fatos ocorridos em relação ao campo de jogo, estudará, em conjunto com a Arena, formas de evitar que novos incidentes acarretem em multas, perda de mandos de campo e prejuízos à imagem do clube e de sua ordeira torcida.

Aos torcedores, jogadores e funcionários do Grêmio e integrantes das demais torcidas organizadas, agradecemos pelo apoio e engajamento que sempre emprestaram às campanhas de conscientização realizadas pelo Clube, especialmente no jogo do último domingo.

PRESIDENTE DO GRÊMIO DETONA ATITUDE DA TORCIDA QUE ENTOOU CÂNTIGO RACISTA


Koff detona atitude da Geral: "Que torcedor é este que vai ao estádio para prejudicar o clube?"Organizada entoou cânticos com a palavra "macaco" durante a vitória sobre o Bahia

DIÁRIO GAÚCHO Atualizada em 31/08/2014 


Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS


A tarde da vitória do Grêmio diante do Bahia foi marcada por uma série de protestos contra o racismo, uma tentativa de apagar a imagem deixada pela atitude discriminatória sofrida pelo goleiro Aranha. Por outro lado, também teve cânticos entoados pela Geral com a palavra "macaco". Após o jogo, o presidente Fábio Koff revoltou-se contra a atitude da organizada.

— Eu tenho a lamentar, de novo, os cânticos racistas, que não cabem dentro de um estádio. Não há como o Grêmio admitir, como instituição. Estamos enfrentando problemas com torcedores com muito rigor. Temos sofrido as consequências por isso — destacou, para depois completar:

— Hoje uma facção da torcida praticamente acaba com a tese do Grêmio (no julgamento de quarta-feira). Parece que propositalmente querem acabar com a tese do Grêmio. Que torcedor é esse que vai ao estádio para prejudicar o seu clube?

Nos minutos finais do primeiro tempo, torcedores no setor da arquibancada norte, onde a organizada se posiciona, entoaram cânticos com a palavra "macaco" se referindo ao Inter e seus torcedores. Foram imediatamente repreendidos com vaia pela maioria dos gremistas presentes. Na sexta-feira, a Torcida Jovem emitiu nota em que prometeu suprimir de seus cânticos a alcunha comumente utilizada por gremistas para designar o rival.

Com exceção dos cantos atrás da goleira, o jogo foi repleto de demonstrações de repúdio ao racismo. Antes da partida, um vídeo com mensagens contra o preconceito racial foi exibido nos telões do estádio. O Grêmio entrou em campo carregando uma faixa com a inscrição: "somos todos azuis, pretos e brancos. Chega de racismo".

Pelas arquibancadas e cadeiras da Arena, as manifestações contra a intolerância se espalharam. Mensagens em cartazes levados pelos torcedores procuravam explicar que o episódio de quinta-feira não significa que o Grêmio e seus torcedores são racistas.


Grêmio prepara defesa em julgamento e descarta fechar espaço da Geral. Compromisso de identificar e punir os torcedores envolvidos na injúria racial contra o goleiro Aranha, do Santos, é o trunfo do clube

por Luis Henrique Benfica, DIÁRIO GAÚCHO 31/08/2014 | 17h25



Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS


Por enquanto, o compromisso de identificar e punir os torcedores envolvidos na injúria racial contra o goleiro Aranha, do Santos, é o trunfo do Grêmio para o julgamento de quarta-feira, às 14h, na comissão disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), no Rio. A exclusão da Copa do Brasil ou a perda de até 10 mandos de campo em jogos do Brasileirão são ameaças ao clube.

Foram identificados dois sócios, já suspensos preventivamente. Um deles é Patrícia Moreira, flagrada por câmeras gritando a palavra macaco. Um procedimento disciplinar junto ao Quadro Social poderá determinar a exclusão definitiva.

A suspensão do jogo de volta já é considerada pelo Grêmio uma punição antecipada, pela imagem que traz para o clube. Agora, a luta é para evitar uma sanção maior.

— Não aceitamos a pecha de clube racista. Temos tomado todas as medidas necessárias para evitar atos dessa natureza. A condenação do clube será a vitória das minorias intolerantes — avalia o diretor jurídico Thiago Brunetto.

O Grêmio não cogita fechar o espaço que abriga a torcida Geral. Considera a medida elitista, por roubar do torcedor a chance de pagar ingresso mais barato. Além disso, os dirigentes se dizem convencidos de que os baderneiros migrariam para outros setores da Arena.


SUSPEITOS DE INJURIA RACIAL SERÃO OUVIDOS NA POLÍCIA

(Reprodução, ESPN)

DIÁRIO GAÚCHO 01/09/2014 | 09h33


André Baibich

Polícia espera ouvir suspeitos em caso de injúria racial na Arena nesta semana. Torcedora flagrada chamando o goleiro de "macaco" pode ser intimada a depor



Aranha prestou depoimento na sexta-feira em Porto Alegre antes de viajarFoto: Ricardo Rímol / Agência Lancepress!



Após receber do Grêmio e da Arena as imagens das câmeras de segurança do estádio, a Polícia Civil espera identificar e intimar a depor nesta semana os suspeitos de praticar injúria racial contra o goleiro Aranha durante o jogo entre Grêmio x Santos, pela Copa do Brasil.

Os policiais agora se debruçam sobre cerca de uma hora de imagens entregues pela Arena na noite de domingo. O Grêmio diz ter identificado cinco torcedores que praticaram as ofensas, mas seus nomes ainda não foram repassados às autoridades.

- Recebemos as imagens do Grêmio e estamos analisando. Esperamos ouvir testemunhas e fazer intimações até o final da semana - disse o delegado da 4a Delegacia de Polícia Civil de Porto Alegre, Herbert Ferreira.


Entre as chamadas a depor deve estar Patrícia Moreira, flagrada pelas câmeras da ESPN chamando o goleiro santista de "macaco". A jovem foi afastada do trabalho, excluiu seus perfis nas redes sociais para evitar xingamentos e teve sua casa apedrejada. Sócia do Grêmio, foi suspensa do quadro social.

A pena para o crime de injúria racial é de um a três anos de reclusão. A sanção pode ser ampliada se o ato for praticado na presença de várias pessoas.


QUE TORCEDOR É ESSE QUE VEM PARA O ESTÁDIO PREJUDICAR O GRÊMIO?



ZH 01 de setembro de 2014 | N° 17909


LUÍS HENRIQUE BENFICA


O DESABAFO DE KOFF

NO JOGO EM que o clube esperava amenizar os efeitos dos atos de injúria racial da quinta-feira passada contra o goleiro do Santos, torcedores da Geral voltaram a entoar cânticos racistas e provocaram a ira do presidente



Nem a ameaça de severa punição ao Grêmio pelo episódio de racismo do meio da semana contra o goleiro Aranha do Santos parece sensibilizar a torcida Geral. Pelo menos em dois momentos da vitória de ontem de 1 a 0 sobre o Bahia, cânticos com a palavra macaco partiram da arquibancada norte da Arena, onde se concentra a organizada. Nas duas ocasiões, houve enérgicos protestos e vaias nas outras dependências do estádio. Para muitos, a Geral, ao entoar o cântico racista, manifesta inconformidade por não ser mais subsidiada pela direção.

– Lamento esses cânticos racistas. Essa facção da torcida praticamente acaba com a tese do Grêmio. Parece que, propositadamente, querem prejudicar o Grêmio no julgamento de quarta-feira. Que torcedor é este que vem ao estádio para prejudicar seu clube? – questionou, depois do jogo, o presidente Fábio Koff.

– Que providências maiores nós temos de tomar para que esses fatos não se repitam e que a história do Grêmio não seja manchada por episódios dessa natureza? Não sei – respondeu Koff. – Vamos ver se identificamos esses, os fatos de hoje, e os excluímos da convivência de um estádio de futebol do jogo do Grêmio.

Entre os dirigentes, há inconformismo com o fato de alguns integrantes da Geral terem mandato no Conselho Deliberativo.

Questionado sobre o comportamento da torcida, o técnico Luiz Felipe Scolari falou:

– Não ouvi (o canto). Acho isso uma aberração, uma tristeza para todos nós. Temos que dar um basta nisso, a população em geral e o governo, para acabar com esta bobagem. Cor não quer dizer nada. O que vale é o caráter.

Em forma de repúdio, torcedores exibiram faixas e cartazes contra o preconceito. Os próprios jogadores, antes da partida, carregaram uma faixa com a inscrição “somos azuis, pretos e brancos, chega de racismo”. O mesmo recado foi dado pelo clube, nos telões da Arena.

JULGAMENTO SERÁ NA QUARTA-FEIRA

Até ontem, o compromisso de identificar e punir os torcedores envolvidos no caso de injúria racial contra o goleiro Aranha, do Santos, era o trunfo do Grêmio para o julgamento de quarta-feira, às 14h, na comissão disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), no Rio. A exclusão da Copa do Brasil ou a perda de até 10 mandos de campo em jogos do Brasileirão são ameaças ao clube.

No jogo de quinta, foram identificados dois sócios, já suspensos preventivamente. Um deles é Patrícia Moreira, 23 anos, flagrada por câmeras gritando a palavra macaco. Um procedimento disciplinar junto ao Quadro Social poderá determinar a exclusão definitiva dos torcedores.

Ontem, o goleiro Aranha voltou a falar no assunto em entrevista exibida pelo Fantástico:

– Sempre quando acontece briga no estádio, esse negócio de racismo, de vandalismo, aí a gente costuma dizer, os clubes e todo mundo costuma dizer: “Não são torcedores, é a minoria”. Mas a minoria manda? Se tinha 2 mil pessoas ali atrás e cinco estavam tomando essa atitude, por que as outras pessoas não cobraram delas uma postura melhor?

E falou sobre a punição que espera para a torcedora gremista:

– Essa mocinha aí, acho que a principal punição tem de ser essa, da pessoa nunca mais pisar no estádio, em um lugar público, porque ela me xingou, mas tinha vários outros negros ali.

Na noite de sexta-feira, um vizinho da torcedora Patrícia, que reside em um bairro popular da zona norte da Capital, jogou pedras contra a casa dela. O ato gerou a revolta de vizinhos, para quem a torcedora jamais demonstrou ser racista. A polícia pretende ouvir a torcedora no inquérito aberto para apurar o caso.